Como você vê Paraty? Eu a vejo de várias maneiras. Para mim é uma cidade dividida entre o sério e o divertido. Entre os que gostam de um pouco de sossego, ou o contrário, badalação. Os que preferem vasculhar nas memórias da história aos que se entusiasmam com arquitetura. Para os que apreciam um cálice de aguardente da melhor qualidade ou àqueles que se rendem aos seus festivais de música clássica, fotografia, literatura, gastronomia, entre outros. Para todos, Paraty é uma agradável surpresa.
Como você vê é impossível usar apenas um rótulo para definir Paraty. E olha que não falamos ainda de suas praias. Nelas, o visual também se encontra diversificado, quer nas primitivas praias das ilhas, quer nas movimentadas praias do continente. A mais famosa é a do Cachadaço. Escondida nas encostas da Mata Atlântica, tem suas águas refugiadas entre enormes blocos de granito formando uma grande piscina natural, ao contrário das praias do Lula, do Meio e do Cepilho, esta última com ondas fortes que merecem os aplausos dos surfistas.
Não existe cidade mais disposta a aproveitar a vida do que Paraty. Nada mais justo para quem já foi cenário de minissérie, de novelas e mais de sessenta filmes, como o “Beijo da Mulher Aranha” de Hector Babenco, “Como era Gostoso o meu Francês” e “Quem é bela” de Nelson Pereira dos Santos, e “Gabriela Cravo e Canela” de Bruno Barreto, com Sonia Braga e Marcello Mastroiani. Conta-se que o italiano se enamorou não apenas da cidade, mas da boa pinga da terra que encomendava para maturar em sua adega, lado a lado a vinhos safrados.
Mas o momento agora é de falar de Paraty que gera e inventa artes. No final de julho ali se inicia o mais importante encontro literário brasileiro, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) que só perde em importância mundial pelo festival literário de Hay-on-Wye, no País de Gales. O que poucos sabem, porém, é que Paraty tem um passado literário muito anterior ao da Flip. Ali nasceu Julia da Silva Mann (1851-1932), mãe de Thomas Mann, o maior escritor alemão depois de Goethe. A casa ainda existe, ao lado da Marina de Paraty, a cinco quilômetros do centro histórico.
Para finalizar, considere andar pelas ruas desertas e labirínticas do centro histórico naquele lusco-fusco do amanhecer. O alvorecer é também a melhor hora para se entender a geografia dessa cidade construída na metade do século 16 que foi projetada para se defender dos piratas que enchiam a paciência naquela época. Primeiro o traçado irregular das ruas faria com que eles se perdessem e batessem cabeça para descobrir uma saída.
O certo é que a cidade se revela de uma maneira diferente para cada viajante. Quanto a mim, não resisto em bater em uma das suas portas centenárias, pedir licença e entrar em outra história.
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