Allianz compra carteiras de seguros da SulAmérica por R$ 3 bilhões

Fonte: www.sonhoseguro.com.br, por Denise Bueno, em 23/08/2019

Depois de muito negociar, Allianz e SulAmérica chegaram a um acordo. A gigante alemã vai desembolsar R$ 3 bilhões para assumir as carteiras de seguros de automóvel, condomínio e riscos patrimoniais da centenária seguradora brasileira, segundo fato relevante publicado há pouco. “O excelente relacionamento da SulAmérica com corretores, assessorias e canais alternativos foi um dos grandes atrativos para o inicio das negociações”, disse Eduard Folch Rue, CEO da Allianz Brasil. ao blog Sonho Seguro. O total de receita em prêmios das unidades compradas totalizou aproximadamente R$3.629 milhões de reais (806 milhões de euros) em 2018, sendo R$ 3.427 milhões (762 milhões de euros) provenientes da carteira de automóvel e R$ 202 milhões (45 milhões de euros) das operações de Ramos Elementares.

“Esta negociação é extremamente importante para a SulAmérica, para nossos parceiros, corretores, assessorias, clientes e para o país. O mercado ganha mais relevância com esse novo investimento da Allianz, que reconhece o modelo de negócios desenvolvido pela SulAmérica, investindo ainda mais e acreditando no potencial do setor de seguros brasileiro”, afirma Gabriel Portella, presidente da SulAmérica.

A integração das carteiras depende da autorização da compra pelos órgão reguladores, prevista para um prazo de até doze meses. Enquanto isso, Allianz e SulAmérica seguem independentes, sem qualquer alteração no atendimento a corretores, clientes e fornecedores. Até lá, não haverá mudanças na administração, nas equipes, relações comerciais, fornecimento e oferta de produtos da SulAmérica. Ambas empresas continuarão trabalhando de forma independente uma da outra. “Até a conclusão, tudo continua igual”, enfatiza Portella.

Enquanto a negociação traz um enorme ganho de escala para a Allianz em seguro auto, residência e condomínio, a SulAmérica afirma que a venda permite à empresa focar nos segmentos de Saúde, Odontologia, Vida, Previdência e Gestão de Ativos. Saúde representa 80% de receitas do grupo e é um setor que requer atenção total tanto pelo grande potencial de crescimento, tendo em vista que ter um plano de saúde é um dos três principais desejos das famílias, como também porque o segmento passa por uma readaptação estratégica e regulatória para se tornar mais acessível para a população e rentável.

Saúde, aliás, é uma das carteiras que a Allianz também quer apostar. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defende regras mais flexíveis para as operadoras de convênios médicos. Questionado se venderia a carteira de saúde de planos empresariais que possui para a SulAmérica, o CEO da Allianz afirmou que não vende nada. Pelo contrário, o grupo alemão segue atento a boas oportunidades de negócios. “Estamos criando uma nova Allianz no Brasil, combinando as melhores pessoas de ambos os lados e formando uma excelente equipe que aproveitará as oportunidades do mercado brasileiro com total comprometimento e confiança”, diz Folch Rue. “Nossa marca registrada será a inovação, a digitalização e o serviço aos nossos clientes por meio de nossos principais parceiros, os corretores e assessorias. Combinaremos o conhecimento local da SulAmérica com todos os pontos fortes que um grupo internacional como a Allianz possui.”

Além da carteira de ramos elementares, a SulAmérica vendeu a participação na Caixa Seguradora para a Icatu Seguros, por R$ 183 milhões; a carteira de grandes riscos para a francesa AXA, por R$ 135 milhões; e a carteira de seguros habitacionais para a Pan Seguros, por R$ 60 milhões. Além disso, a empresa informou investimentos na plataforma especializada em investimentos pessoais, a Órama.

É a maior aquisição feita no Brasil neste ano, sem considerar o movimento do mercado acionário envolvendo a venda da participação de acionistas (governo, Caixa e Banco do Brasil) no IRB Brasil Re, que levantou cerca de R$ 10 bilhões. Outras negociações estão no forno, como a oferta do balcão de seguro da Caixa Seguridade. As seguradoras também disputam parcerias com bancos digitais, fintechs, varejos e concessionárias de serviços. Em 2018, foram 17 negociações locais de compra e venda. De 1999 a 2018, 295, segundo dados da KPMG. Uma das maiores negociações anunciada nos últimos anos foi a suíça ACE adquirindo a americana Chubb, por US$ 28,3 bilhões, em 2015.

O estudo global da Deloitte “Perspectivas do setor de seguros 2019” destaca o movimento de fusões e aquisições como uma das formas para as seguradoras enfrentarem uma desaceleração econômica, ou mesmo uma recessão mundial já em 2020. Há também inquietudes com o potencial de disputas sobre tarifas e regras comerciais entre Estados Unidos, China e outros países. “A mensagem subjacente é que, embora a indústria tenha de lidar com inúmeras pressões internas e externas, o fator determinante será o quão comprometida e preparada cada seguradora estará em se adaptar a um ambiente de negócios em rápida transformação”.

E foi exatamente isso que motivou a negociação da Allianz com a SulAmérica. “Quando olhamos os mercados emergentes, o Brasil tem alto potencial. Na América Latina é o maior mercado. Atuamos em 73 países e para nós se a economia crescer um pouco menos do que o previsto é normal. O investimento do grupo é no longo prazo”, afirmou Folch Rue.

Ranking Automóvel – O grande negócio desta aquisição é da carteira de seguro de auto, que leva a Allianz para o seleto grupo do bilhão, passando da oitava posição (R$ 971 milhões) para a segunda colocação do ranking ao somar os prêmios ganhos da SulAmérica (R$ 1,67 bilhão), totalizando R$ 2,6 bilhões em vendas no primeiro semestre deste ano. Superada apenas pelo grupo Porto Seguro, com R$ 4,7 bilhões (R$ 3,2 bilhões da Porto e R$ 1,5 bilhão da Azul).

Seguro automóvel é o terceiro maior segmento de seguros no Brasil, representando 11% de todos os prêmios de seguro no país. Os prêmios atingiram R$ 35,9 bilhões em 2018, um aumento de 6% em relação ao ano anterior, impulsionado em parte por um aumento de 15% na venda de veículos novos, comparado a uma queda de 7% em 2017.

A carteira apresentou avanço de 3% no primeiro semestre deste ano, para R$ 17,2 bilhões. As perspectivas para o segmento são otimistas. Para 2019, a associação nacional de montadoras (Anfavea), prevê crescimento de vendas de veículos de 11% ao ano. Isso é um grande motivador para o seguro. No ano passado e neste primeiro semestre, a combinação de um melhor ambiente econômico, aumento nas vendas de veículos e menor roubo de veículos resultou em prêmios mais altos e menores taxas de perda em todo o setor.

Existem atualmente mais de 55 milhões de veículos circulando no Brasil, correspondendo a aproximadamente um veículo por cada quatro brasileiros, segundo o Sindipecas, a Associação Nacional de Peças para Veículos Automotores. Entre 2009 e 2017, o total de frota circulante cresceu de 39 milhões em 2009 para 57 milhões em 2017. A maioria dos veículos no Brasil é relativamente antiga, com uma idade média de 6,8 anos.

Apenas 8% dos veículos são novos, enquanto 22% têm de 1 a 3 anos e 70% têm mais de 4 anos. Da frota circulante, 64% são automóveis, 9% são veículos comerciais, 3% são caminhões e 23% são motocicletas. Mas apenas 20% são segurados, representando espaço adicional para crescer, destaca estudo divulgado neste ano pelo Morgan Stanley. Ainda mais agora que a Susep editou nesta semana uma carta-circular pela qual formaliza a flexibilização do uso de autopeças nos procedimentos de reparos de veículos. As companhias podem utilizar peças similares em lugar das originais, que chegam a custar até o dobro do valor do genérico. Será preciso autorização do cliente e que os contratos especifiquem qual tipo de peça pode ser usada e em quais casos.

A expectativa é de que o seguro popular de auto passe a ser mais ofertado pelas seguradoras, que aguardavam mais segurança jurídica para atuar neste nicho, hoje liderado pela Tokio Marine. Em grande parte, a baixa penetração do seguro de automóvel é consequência da idade média do veículo no Brasil, uma vez que carros mais antigos perdem atratividade diante do elevado custo do seguro. A penetração do seguro auto varia dramaticamente de acordo com a idade do veículo, com 79% dos novos veículos sendo segurados em 2018, em comparação com 34% dos veículos com até 6 anos e apenas 3% dos veículos com mais de 11 anos.

O alto custo do seguro de automóvel tem contribuído historicamente para a baixa penetração no mercado. Os brasileiros pagam, em média, R$ 3,5 mil por seguro de carro a cada ano, 71% a mais que a renda mensal média de R$ 2,1 mil, segundo pesquisa realizada em 2018 pela Tex Technology, plataforma de cálculo para corretores de seguros. Os prêmios de automóveis são ainda mais caros em regiões com altas taxas de criminalidade ou fronteiras com outros países, com um custo anual de até R$ 8,7 mil. Há que se considerar também que as famílias ricas, com mais de quatro carros, fazem o auto seguro diante dos preços praticados até 2018.

Cenário que pode mudar se a oferta for mais amigável. A boa novidade é que os preços do seguro de carro apresentaram queda no primeiro semestre, tanto pela redução da sinistralidade (menos roubos e acidentes) como também pelo uso da tecnologia que tem proporcionado economia de custos administrativos significativos. “Além de apostarmos na retomada das vendas de veículos novos, acreditamos que o brasileiro está cada dia mais consciente da importância de ter seguro de responsabilidade civil para indenizar terceiros em caso de um acidente”, argumentou Eduard Folch Rue.

Com a retomada da economia, o sonho de ter um carro novo voltará a embalar os brasileiros e isso impulsionará as vendas de seguros, segundo especialistas. Ganhará mercado aquelas seguradoras que já iniciaram um processo de atendimento digital ao corretor e ao consumidor. Embora em outros países a Allianz já tenha seguros inovadores como “on demand” e uso de telemetria, no Brasil a experiência do grupo com tais produtos virá da SulAmérica. “A inovação da SulAmérica em auto foi outro atributo que contou pontos para a negociação”, disse o executivo da Allianz.

Em países desenvolvidos, com boa infraestrutura de transportes, o seguro de carro segue sendo um dos líderes de vendas, pois o conforto proporcionado pelo automóvel ainda motiva o investimento em veículos que conquistam usuários diante das inovações tecnológicos. “O que muda é a oferta. O segmento passa a contar com diversos tipos de produtos, desde o seguro tradicional anual até o que pode ser feito por apenas algumas horas; seguros diferenciados para carros compartilhados e também elétricos, por exemplo”, cita o CEO da Allianz. “Estamos muito empolgados com esse significativo investimento feito pelos acionistas do grupo Allianz”.

Ranking Residencial – Com a compra, a Allianz sobe da décima segunda posição no ranking de seguro residencial para a quinta colocação no ranking das seguradoras independentes, segundo cálculo do blog Sonho Seguro com base nos dados divulgados pela Susep de janeiro a junho deste ano. Com vendas de R$ 1,5 bilhão de seguro residencial no primeiro semestre, as companhias ligadas a bancos lideram o ranking, com Bradesco (R$ 290 milhões) e Itaú (R$ 232 milhões). Já o bloco das seguradoras independentes é liderado pela Porto Seguro (R$ 166,7 milhões), Zurich (R$ 166,2 milhões), HDI (R$ 73 milhões), Mapfre (R$ 57 milhões) e agora a Allianz (R$ 22 milhões) mais a SulAmérica (R$ 34 milhões), totalizando R$ 56 milhões.

Ranking Condominio – No seguro condomínio, a Allianz já é líder há alguns anos e agora alarga muito a distancia do segundo colocado. As vendas totais de seguro condomínio no primeiro semestre totalizaram R$ 222,1 milhões. Desse valor, a Allianz responde por R$ 41,9 milhões e a SulAmérica com R$ 30,5 milhões, totalizando R$ 72,4 milhões. Na vice liderança está a Sompo Seguros, com R$ 40,8 milhões, seguida pela Porto Seguro, com R$ 30,9 milhões, Tokio Marine com R$ 29,5 milhões e Mapfre, com vendas de R$ 25 milhões.

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