“A Notícia” teve acesso à decisão judicial que autorizou as prisões. O documento, assinado pela juíza Karen Francis Schubert Reimer, revela o monitoramento de quase 200 mil ligações entre os investigados, em mais de um ano de apuração sigilosa. A arquitetura do esquema detalha o papel de cada um dos mais de cem suspeitos em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, no Paraná e em São Paulo.
— Causa espanto as proporções que o grupo criminoso pode ter adquirido, por quanto pôde contar com a colaboração de mais de 75 elementos ao sucesso dos delitos — anotou a juíza.
Além das prisões, foram autorizadas ações de busca e apreensão em 103 endereços e de sequestro de valores nas contas bancárias de 71 investigados. Com exceção dos proprietários dos veículos, que entregavam seus carros aos aliciadores no Rio de Janeiro, a investigação aponta a ligação direta ou indireta de praticamente todos os outros suspeitos com autopeças, oficinas mecânicas e ferros-velhos, principalmente em Joinville.
— Tamanha é a organização do grupo que foi possível identificar a existência de pessoas com a tarefa específica de dar destino final à qualquer peça remanescente dos automóveis (não aproveitadas) que pudesse constituir indício das práticas criminosas — anotou a magistrada.
Apesar de não ser o foco da operação, a apuração também trouxe indícios de que o núcleo carioca do esquema teria envolvimento em crimes mais graves, como assaltos. O Ministério Público ainda prepara a denúncia contra os envolvidos.
A reportagem decidiu não divulgar os nomes dos suspeitos porque nem todos puderam apresentar defesa prévia e ainda não são considerados réus no processo.
ENTENDA A ATUAÇÃO DOS GRUPOS, CONFORME APONTA A INVESTIGAÇÃO
Aliciadores (estelionatários)
4 suspeitos cariocas atuavam no Rio de Janeiro com a função de aliciar proprietários de veículos segurados, que lhes entregavam os automóveis juntamente com as chaves e documentação. Eram os responsáveis pela captação e pela destinação dos automóveis aos receptadores em cidades como Joinville, Blumenau, São José, Palhoça, Tijucas e Chapecó. Após a entrega dos veículos em SC, o grupo orientava e acompanhava os proprietários no registro das falsas ocorrências policiais de que os aliciados alegariam ser vítimas. Isso ocorria, em média, de três a dez dias após a entrega dos automóveis, tempo necessário para que os receptadores em SC pudessem escondê-los ou apagar os sinais identificadores.
Ao final, os proprietários dos veículos ou seus representantes acionavam as seguradoras na busca de indenizações indevidas. Relatórios dos monitoramentos telefônicos e das investigações apontam que os estelionatários realizaram o envio de mais de 70 veículos a SC. Investigações também indicam que o núcleo carioca de estelionatários teria um suposto envolvimento em crimes mais graves, como roubos, embora não fosse esse o foco da operação Corte Seguro.
Transportadores (receptadores)
15 suspeitos seriam responsáveis pelo transporte dos veículos do Rio de Janeiro para Santa Catarina. Seriam orientados tanto pelos aliciadores cariocas quanto pelos receptadores que comercializam os automóveis e seus componentes em SC. Utilizavam seus próprios caminhões no transporte, sem a documentação fiscal (de prestação de serviço e da transferência dos automóveis). Faziam o descarregamento dos veículos (juntamente com as chaves e certificados de registro e licenciamento) em locais de pouca ou nenhuma movimentação.
Os receptadores de Joinville
8 suspeitos de Joinville seriam os principais líderes da organização em SC. Eram elos entre os núcleos carioca e catarinense da associação porque seriam os responsáveis pela encomenda dos veículos do Rio de Janeiro. Todos, com exceção de um suspeito, são proprietários de lojas de autopeças utilizadas para a recolocação dos produtos dos crimes no mercado automotivo.
Dois deles ainda comandariam subnúcleos criminosos integrados por transportadores, guincheiros, mecânicos, latoeiros e colaboradores próprios. A investigação ainda detalha o envolvimento de cada membro dos chamados subnúcleos em ações como a desmontagem e montagem de veículos, remoção e exposição das peças à venda, transporte dos produtos dos desmanches, descarte de peças, falsificação de documentos e clonagem de veículos.
Os receptadores de Blumenau
3 suspeitos de Blumenau também são apontados como envolvidos no esquema. Um deles, dono de uma autopeças, fazia tratativas diretas com o núcleo carioca e usava o estabelecimento para o recebimento de desmanche dos veículos vindos do Rio de Janeiro. Outro suspeito, dono de um ferro-velho, ajudava o proprietário da loja de autopeças nas atividades de receptação, fazendo o desmanche e a remontagem dos automóveis com o objetivo de revender as peças. O terceiro suspeito, um guincheiro, cooperava com a dupla nas ações criminosas.
Os receptadores e transportadores de outras cidades
13 suspeitos integravam os subnúcleos do esquema em outras cidades catarinenses. Também eram responsáveis por fazer tratativas com o núcleo de aliciadores cariocas e, consequentemente, por receber os veículos do Rio de Janeiro, por mantê-los em depósito, desmontá-los, montá-los, remontá-los e vendê-los no exercício de atividades comerciais ou industriais.
Os donos dos veículos (estelionatários)
72 suspeitos cariocas, donos dos veículos trazidos ilegalmente a SC, entregavam seus veículos, documentos e chaves aos aliciadores no Rio de Janeiro e, em seguida, registravam as falsas ocorrências policiais com o objetivo de receberem indenizações indevidas de seguradoras. Suas colaborações eram fundamentais ao sucesso do esquema criminoso.
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